sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Pós-modernidade: a ditadura da felicidade global

22 09 2007
A vida humana pode ser dividida basicamente em três esferas. Uma esfera privada (na qual estão inseridos nos nossos familiares e amigos mais próximos), uma esfera social-coletiva (na qual estão inseridos os colegas de trabalhos, da classe social, os familiares mais distantes etc) e a esfera pública (que o espaço mais amplo, onde nos relacionamos com as mais diversas pessoas, no ambiente de trabalho, numa praça pública etc).
No passado, foi possivel afirmar que cada cultura se inclinava por uma ou outra esfera. Roma e Grécia são o berço da esfera pública. A França é o berço da esfera social. A Alemanha – assim como os Estados Unidos (cada um dos países com suas particularidades) –, são o berço da esfera privada. Pontes de Miranda chega ao observar que a Alemanha nunca teve grandes revoluções sociais. As revoluções na Alemanha são meramente individuais; tão individuais que possuem nomes: Nietzsche, Goethe, Kant, Schopenhauer, Hegel, etc.
Diante do fenômeno que se convenciou chamar de pós-modernidade, parece que caminhamos para uma esfera global, mais do que meramente pública, formada por um único bloco humano. Essa nova era passa então a determinar um padrão de comportamento, ao qual nem todos podem se ajustar.
No passado, as nossas relações interpessoais estiveram muito mais restritas a um número menor pessoas e contingências, as quais podiam interagir ou interferir limitadamente na realização pessoal de cada um. O tempo em que vivemos abre uma infindável gama de possibilidades, pugnando por decretar um modelo de felicidade global, marcada essencialmente por uma relação entre prazer e desejo. O que consumimos, o que temos, o que ostentamos possuir, são os indicadores de quanto estamos “fellizes”.
Para o utilitarista Stuart Mill (1806-1873), a fonte da felicidade estava na liberdade. Hoje, não seria desnecessário dizer que a liberdade de mercado vem ao cabo desse pensamento. Todos têm a vontade de ascender; todos podem consumir quando são iguais e felizes!
Sob o pretexto de uma era de liberdade, a pós-modernidade rompe com a autonomia privada. Somente seremos felizes se estivermos ajustados a um molde imposto pela era global. Somos impelidos a ver na forma das nuvens não o que nós mesmos estamos compreendendo, mas o que – acredita-se – está sendo reconhecido pelo mundo. A grande e a pequena comédia da história do mundo (Schopenhauer) nos leva a querer ver nas nuvens o que nós mesmo não estamos compreendendo.
Mas como encontrar uma figura ou uma interpretação adequada para as figuras das nuvens, quando sabemos que o que se vê depende das paixões, preferências, enganos, temor etc.? Diante desde quadro que se abre, resta-me concluir dizendo que a sociedade pós-moderna nos conduz como rebanho ao precipício da felicidade global; ao encontro com a infelicidade individual. Este é o dilema.

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