sexta-feira, 19 de setembro de 2008

A monocultura do sexo na música popular

29 07 2008

BETTY FRIEDAN foi aquela pacata dona de casa americana que certo dia acordou disposta a não mais orientar a sua vida pelo bem estar doméstico. Ela simplesmente resolveu chutar o pau da barraca e escrever um livro -A Mística Feminina - que mudou a sexualidade de boa parte das mulheres do mundo.
O Brasil também colheu frutos vindos da revolução sexual americana, o que causou um profundo impacto em nossa cultura musical.
Hoje, tanto se fala como se ouve muito a respeito de sexo. A música, especialmente o forró nordestino e o funk carioca, transformou suas letras em monólogos da vagina. Só se canta sexo. É créu o tempo tempo… O Mc Créu apenas consegue mudar a velocidade…créééu…mas não o assunto. É créu (clique aqui para ver um vídeo educativo sobre a dança no YouTube).Com o forró não é diferente.
BRÁULIO TAVARES chamou isso de monocultura do sexo. Ele escreveu um artigo supimpa sobre a questão do sexo na música popular (Jornal da Paraíba, 9 de Julho de 2008, opinião, p. 6, http://grandeponto.blogspot.com/2008/07/monocultura-sexual.html). O autor faz uma crítica às letras de forró que somente encontram a temática do sexo. Sexo, sexo, só se conta sexo…
Stephen Kanitz também escreveu recentemente sobre a temática. Ele afirma que homens só pensam “naquilo”; as novelas só mostram “aquilo” e as propagandas só insinuam “aquilo” porque o homem foi geneticamente programado para “aquilo”… ( VEJA, Edição 2068, 16/07/08). E “aquilo” é o motivo pelo qual ainda somos uma espécie bem sucedida na evolução.
É mesmo Kanitz… Mas quanta saudade tenho do velho Luís, que também contava sobre o sexo, mas não somente sobre isso.
ABRINDO PARÊNTESES: Luís Gonzaga nasceu em Echu e noutro lugar não poderia ter nascido para ser o Rei que foi. O filho de Januário e Santana tornou-se enfim o maior intérpretre do nordeste; da fome e suas mazelas. Sua excelência o mestre do Pé de Serra afundou a sua sanfona e a fez respirar suavimente, amaciando a fome de nós nordestinos. Quanta falta faz o seu baião em mês de São João. Luís, não é preciso ter-lhe conhecido para compreender a essência de seu amor por esta terra de desgraça, sem graça, seca e improdutiva. Luís, que nunca teve escola, fez escola e nos deu adeus sem permissão, deixando a saudade no Sertão.
Pois é. Intelectual gosta de pobreza, mas ao que parece não é só a pobreza que gosta de sexo e o sexo não se tornou um produto exclusivo dos pobres, mas se tornou um produto pobre, para pobres e ricos, e talvez aí (ou não!) esteja o motivo para a monocultura do sexo na música popular.
Não que defendamos o fim da apologia ao sexo, mas os letristas não tem outros assuntos? Não, não têm o que pensar porque simplesmente não pensam. Quanta saudade de Luís Gonzaga.
Até os sapos mudam de nota musical para se tornarem mais atraentes…

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